Revista AIAFANews entrevista o coordenador de frota e mobilidade Latam da Solenis.
A sustentabilidade permeia cada solução e guia as metas da Solenis. E quando o assunto é frota, a empresa se destaca no mercado. E foi graças à implementação de um programa de carbono zero que a Solenis venceu os Prêmios Frotas 2024 da AIAFA Brasil na categoria Mobilidade Sustentável. Com o programa, que vai desde a aquisição de veículos leves com maior eficiência energética até a compensação de emissões de CO2, a empresa alcançou a neutralização total das emissões no Brasil – e também no Peru.
Mas Marton Kiss, coordenador de frota e mobilidade Latam da Solenis, aspira a mais: nos próximos anos, ele projeta que 100% da frota da América Latina chegará ao carbono zero. E por se dedicar para que a frota seja cada vez mais sustentável e segura, tomando decisões baseadas em responsabilidade social, Kiss também ganhou o prêmio de Gestor de Frotas do Ano 2024.
Líder global em especialidades químicas, a Solenis conta com uma frota de 1.200 veículos na América Latina, todos comerciais leves, que contemplam os times de vendas, de assistência técnica e os considerados benefícios. Nesta entrevista à revista AIAFANews, Kiss explica como gerencia as particularidades na gestão de frota dos 10 países da América Latina em que a empresa está presente, defende que o híbrido flex é a melhor solução para a frota brasileira e dá dicas para quem está começando na área.
Em 2023, a Solenis adquiriu a Diversey, e, com a mudança, o tamanho da frota teve um salto quantitavo. O que mudou na gestão da frota?
Essa integração entre as empresas representou um grande desafio para nós, especialmente no que diz respeito à unificação de toda a nossa frota. O ponto de partida foi estabelecer uma política que abrangesse toda a América Latina. No entanto, um aspecto crucial que facilitou esse processo foi a visão compartilhada pelas duas empresas, que sempre priorizaram a segurança dos colaboradores.
Como gerenciar as particularidades na gestão de frota dos diferentes países?
Coordenar toda essa frota é um desafio diário, mas tudo se baseia em ter regras bem definidas. A unificação da política de frotas foi um passo essencial nesse processo. Nossa primeira ação foi estabelecer uma nova política que fosse padronizada para todos os países, respeitando as particularidades de cada um, mas de forma unificada. Esse é, sem dúvida, um grande desafio, afinal, estamos falando de 10 países diferentes na América Latina, cada um com sua cultura e suas regras. No entanto, temos uma cultura que valoriza a escuta e o aprendizado com os outros, e todo esse trabalho é construído em conjunto com os condutores. Escutar é a melhor maneira de compreender as necessidades e, assim, planejar e definir as melhores soluções.
A frota continua sendo mista?
Sim, a nossa frota ainda é mista, mas a tendência é migrarmos para 100% da frota operando no modelo de leasing. Para isso, o gestor de frotas precisa compreender as particularidades de cada país. É fundamental ir além da simples gestão de frotas e entender o cenário econômico de cada país para definir os modelos mais adequados economicamente à Solenis.
Em que tipos de serviços os veículos são empregados?
Os veículos desempenham um papel essencial no atendimento aos nossos clientes, sendo utilizados pelas equipes de vendas, pelo time de atendimento técnico e pela equipe de pós-venda. Como atendemos diversos mercados, nossa operação é bastante complexa, o que aumenta significativamente a nossa responsabilidade. Por isso, trabalhamos incansavelmente todos os dias para manter a operação em pleno funcionamento, garantindo o melhor atendimento possível aos nossos clientes.
"A Solenis incentiva o uso de todos os modais de transporte, desde que sejam seguros para os colaboradores, e sempre busca alternativas mais sustentáveis"
Além de carros próprios ou da empresa, os colaboradores utilizam outros modais para se locomoverem ao trabalho? A empresa incentiva alternativas mais sustentáveis?
A Solenis incentiva o uso de todos os modais de transporte, desde que sejam seguros para os colaboradores, e está sempre em busca de alternativas mais sustentáveis. No entanto, acredito que o nosso principal incentivo seja a adoção do modelo de trabalho híbrido, disponível para todos os colaboradores.
Essa iniciativa tem um impacto claro na qualidade de vida dos colaboradores e contribui positivamente para o meio ambiente. Com menos deslocamentos, reduzimos as emissões de carbono e o trânsito nas grandes cidades. Essa prática reflete a grande responsabilidade social da Solenis e o seu compromisso com a sustentabilidade.
A Solenis implementou um programa de carbono zero e alcançou a neutralização total das emissões de CO2 da frota leve. Pode nos contar como funcionou esse programa, que mudanças internas requereu e benefícios que trouxe para a empresa e para o meio ambiente?
Sim, alcançamos esse marco no Brasil e no Peru. Isso quer dizer que 50% da nossa frota já está dentro desse programa, ou seja, carbono zero. Nosso objetivo, nos próximos anos, é expandir para que 100% da frota na região seja incluída.
O programa começa com a aquisição de veículos com maior eficiência energética. Além disso, medimos as emissões de carbono de cada veículo e, por meio de parcerias com organizações reconhecidas internacionalmente, realizamos a compensação dessas emissões. Todo o processo é auditado pela Verra (Verified Carbon Standard), que estabelece padrões globais para ações climáticas e de desenvolvimento sustentável.
Os benefícios são inúmeros, pois reforçam o compromisso da empresa com o meio ambiente. Precisamos pensar em um futuro sustentável, e o gestor de frotas desempenha um papel fundamental nesse processo.
Quais são as marcas e modelos predominantes na frota? O que é mais importante na hora de escolher um veículo?
Não há uma marca predominante em nossa frota, pois cada país possui as suas particularidades. Posso garantir que, em nossa frota, priorizamos veículos com avaliação de segurança pela Latin NCAP. Portanto, as montadoras que oferecem veículos seguros certamente estão representadas em nossa operação. Também damos prioridade a veículos com maior eficiência energética, reforçando o nosso compromisso com a sustentabilidade.
Quantos veículos híbridos ou elétricos na frota?
Contamos com cerca de 40 veículos híbridos em nossa frota na América Latina. Este é um projeto que iniciamos a expandir em 2024, com a meta de alcançar 150 veículos híbridos até 2025. Até este momento, não incorporamos veículos elétricos à frota, pois entendemos que a região ainda não possui infraestrutura adequada para esse tipo de tecnologia. Por isso, estamos priorizando veículos híbridos e, no Brasil, modelos movidos a etanol. Em outras partes do mundo, como na Europa e na América do Norte, já temos veículos elétricos, com um projeto encabeçado pela nossa líder de frotas global, Tiffanie Von-Jones.
Por outro lado, já compensamos 100% do carbono emitido por nossa frota no Brasil e no Peru por meio de uma parceria com a Verra. Isso representa um terço da nossa frota com emissões líquidas zero de carbono.
"O híbrido flex combina eficiência energética com o uso de um combustível sustentável e limpo, algo que o Brasil já domina desde os anos 1980"
Na sua opinião, o híbrido flex é a melhor solução para a frota brasileira?
Sem dúvida, na minha opinião, o híbrido flex é a melhor solução para o Brasil. Essa tecnologia combina eficiência energética com o uso de um combustível sustentável e limpo, algo que o País já domina desde os anos 1980. O ciclo de carbono do etanol é um exemplo disso, pois o CO₂ emitido na combustão é compensado pela absorção durante o cultivo da cana-de-açúcar, fechando o ciclo de forma eficiente.
É claro que o processo industrial do etanol também gera emissões, mas, ainda assim, ele se destaca como a melhor alternativa para um desenvolvimento sustentável no Brasil. Os veículos híbridos flex dispensam infraestrutura de recarga e custam apenas de 10% a 15% acima do similar à combustão. Por fim, a tecnologia é sustentável: a emissão de CO₂ é mínima, bem próxima do que é emitido pelos modelos elétricos.
E como é a gestão do combustível?
A gestão de combustível envolve diversos fatores cruciais, como a manutenção adequada dos veículos, o treinamento e a orientação dos condutores em relação ao consumo eficiente, e o incentivo à direção econômica. Também é essencial utilizar tecnologias como a telemetria, planejar rotas e horários de deslocamento e, sempre que possível, optar por combustíveis de qualidade, embora isso nem sempre seja garantido devido à falta de fiscalização pelos órgãos competentes.
Também é importante ter controle de combustível eficaz. O principal, e talvez mais importante KPI (indicador-chave de desempenho), é o consumo médio por quilômetro. Esse dado fornece insights valiosos sobre a eficiência da frota, permitindo comparações entre períodos, condutores ou diferentes veículos, o que nos ajuda a identificar oportunidades de melhoria e otimização.
Adotaram ou pensam adotar combustíveis alternativos, como gás natural veicular?
Sim, estamos sempre avaliando opções de combustíveis sustentáveis em todos os países onde atuamos. Entre os benefícios do gás natural, destacamos o fato de ser menos poluente do que outras fontes de energia, como o óleo diesel, e mais econômico em comparação à gasolina ou ao diesel.
Por outro lado, a extração do gás natural pode causar impactos ambientais significativos, como a contaminação de lençóis freáticos, o consumo excessivo de água e até pequenos tremores de terra. Além disso, é um combustível fóssil não renovável que, embora menos poluente, ainda contribui para a emissão de gases de efeito estufa.
Então a empresa investe em telemetria? Que tipo de resultados obtém com essa tecnologia?
Sim, investimos em telemetria, e os principais resultados obtidos são o aumento da segurança e a redução dos custos operacionais. Além disso, o sistema oferece uma ampla gama de dados essenciais para uma gestão de frota eficiente, permitindo tomadas de decisão mais assertivas e estratégicas
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Quando e como pensam aplicar a Inteligência Artificial na frota? De que forma o senhor acredita que a IA pode otimizar a gestão da frota?
Pensamos em aplicar a Inteligência Artificial na frota em breve, é uma tendência global em todos os sentidos. Vamos poder utilizar algoritmos e sistemas inteligentes para coletar, analisar e interpretar dados relacionados aos veículos, motoristas, rotas e condições de tráfego.
Quais serão as tendências e os desafios para os gestores de frotas e de mobilidade para 2025? A que esses profissionais precisam ficar atentos?
O principal desafio é garantir a segurança no trânsito, algo que não envolve apenas os nossos condutores, mas diversos agentes. Por outro lado, a tendência do mercado é a crescente disponibilidade de veículos híbridos, e cabe a nós, gestores de frotas, identificar esses modelos e buscar as melhores soluções para incorporá-los de forma eficiente e sustentável.
O senhor acaba de ser homenageado como Gestor de Frotas do Ano 2024 nos Prêmios Frotas. O que significou para o senhor, profissional e pessoalmente, receber esse reconhecimento da AIAFA Brasil?
Primeiramente, quero agradecer imensamente à minha família, em especial à minha esposa, Vivian Kiss, que sempre esteve ao meu lado ao longo dessa trajetória, me apoiando em cada passo. Agradeço também à AIAFA pelo prêmio e aproveito para parabenizá-los pelo excelente trabalho que têm realizado na área de frotas. A AIAFA é uma das maiores referências que temos e contribui de forma significativa para o aprimoramento da gestão de frotas, agregando muito ao setor.
Para mim, esse prêmio representa a coroação do trabalho que venho realizando nos últimos 15 anos. Costumo brincar que, quando comecei na gestão de frotas, ainda não existia uma estrutura definida – era aquele velho gaveteiro com pastas suspensas, cada uma identificada pela placa do veículo, onde ficavam os documentos e as multas. Muita coisa mudou desde então... Considero que este prêmio é de todos os gestores de frotas. Durante esse período, tive o privilégio de fazer muitos amigos, com os quais aprendi muito. Acredito que crescemos juntos e, sem dúvida, esse prêmio é a coroação de todo esse trabalho coletivo.
Como tem sido sua trajetória de 15 anos em gestão de frotas? O que o senhor acha que o levou a ganhar essa premiação?
Nos últimos 15 anos, muita coisa mudou, e eu aprendi bastante também. Minha trajetória foi construída com muito trabalho, honestidade e resiliência. Acredito que cheguei a esta premiação graças à minha dedicação, ao prazer que sinto em trabalhar com gestão de frotas e às ações que pude implementar nas empresas pelas quais passei.
Poderia deixar algum conselho para quem está começando na área?
Em primeiro lugar, é essencial estudar e se aprofundar no universo da gestão de frotas. Foque sempre na segurança e na sustentabilidade da frota, buscando veículos mais seguros. Isso não só garante a proteção dos colaboradores, mas também pressiona as indústrias nacionais a desenvolverem veículos mais seguros, assim como ocorre na Europa e nos Estados Unidos.
Crie uma política de frotas bem estruturada, levando em conta as particularidades da sua operação, e tenha sempre uma visão estratégica, emocional e seja resiliente. E, por fim, escute seus condutores e seus líderes – eles são a peça-chave para uma gestão de frotas eficiente e bem-sucedida, e você é o elo entre isso.
Texto: Liana Aguiar
Fotos: Lienio Medeiros