Entrevistas
"O grande desafio dos gestores é implementar frotas sustentáveis"
Entrevistamos Caroline Ferreira Lopes, analista de frotas da Arcos Dorados

Antes de adotar soluções pontuais voltadas ao meio ambiente, cabe aos gestores de frotas refletirem de forma estratégica sobre o presente e o futuro da mobilidade como um todo. A sua frota é realmente de baixa emissão? Como você, gestor de frota, pode contribuir para uma mobilidade mais sustentável? Essas são algumas das questões foram levantadas por Caroline Ferreira Lopes, analista de frotas da Arcos Dorados, durante esta entrevista.
A Arcos Dorados, a maior operadora de restaurantes McDonald’s da América Latina e Caribe, conta no Brasil com uma frota composta por 450 veículos leves - sedãs, SUVs e a picape compacta VW Saveiro - e presença operacional em todo o território nacional. A redução das emissões de poluentes e a incorporação de práticas alinhadas aos critérios ESG estão entre as prioridades da área de gestão da frota da empresa.
À AIAFANews, Caroline expõe seu amor pela área de gestão de frotas, fala sobre a preocupação com a segurança no trânsito e reforça que a solução para o meio ambiente passa também pela redução de veículos nas ruas.
Como a gestão da frota da Arcos Dorados está estruturada no Brasil? Essa área segue diretrizes da sede, em Montevidéu, Uruguai, ou tem autonomia para elaborar a própria política de frota?
A gestão de frota no Brasil opera de forma independente, faz suas próprias negociações e escolhas. Temos uma política local, elaborada por várias áreas multidisciplinares. A gestão de frotas é um departamento autônomo e estratégico da companhia, inclusive com ações ESG implementadas.
"Para exercer função de gestora de frotas, entendo que é essencial ter amor pela função e um olhar de empatia pelo outro a todo instante"
Há quanto tempo a senhora trabalha na Arcos Dorados? Como é se dedicar à gestão da frota?
Ingressei na Arcos Dorados (McDonald’s) como preposta de uma locadora. Posteriormente fui contratada pela Arcos Dorados em comum acordo entre as partes. Estou na companhia há três anos e me dedico à gestão da frota. Gosto de utilizar uma frase para a minha função: “O sorriso encanta muita gente”. Tenho muito prazer em atender, solucionar crises e principalmente ouvir os nossos clientes internos. Para essa função de gestora de frotas, entendo que é essencial ter amor pela função e um olhar de empatia pelo outro a todo instante.
Quais são as principais características e os maiores desafios da gestão de uma frota tão complexa como a da Arcos Dorados?
Lidamos com os condutores a todo o momento, uma vez que temos uma frota operacional considerável e espalhada por todo o Brasil. Os desafios são constantes e enormes. Precisamos atender de forma ágil e eficiente os condutores para que eles não fiquem sem veículo mais de 24 horas, sem contar os desafios de manter os custos dentro do orçamento previsto. As manutenções corretivas, educação no trânsito (segurança do condutor), controle de infrações, além de manter a frota segura e eficiente também são os desafios diários e constantes.
Caroline Ferreira e Claudio Alves da Silva, da Arcos Dorados: uma das prioridades da área de frotas é atender aspectos de sustentabilidade ESG
Que modalidade de aquisição da frota a empresa adotou? O que mais pesou na decisão por essa modalidade, quais as vantagens?
Há muitos anos optamos pela frota 100% terceirizada, para podermos oferecer uma gama de veículos e estarmos sempre acompanhando as tendências de mercado. Uma vantagem é deixar com quem tem a expertise de cuidar e zelar pelas manutenções dos veículos de acordo com o manual do fabricante e não precisar administrar internamente uma grande rede de concessionárias. O importante, quando se adota um modelo de frota terceirizada, é ter um contrato bem elaborado com todos os detalhes e necessidades da companhia bem amarrados, para não haver surpresas para nenhuma das partes.
"Quando se adota um modelo de frota terceirizada, é importante ter um contrato bem elaborado para não haver surpresas"
Quais os critérios na hora de escolher uma marca e um modelo para a frota?
São diversos critérios envolvidos: nossas necessidades específicas, eficiência do veículo – se atende aspectos de sustentabilidade ESG, consumo e histórico de manutenções –, cargos dos condutores, preços dos veículos, mensalidades. Por exemplo, não inserimos em nossa frota veículos que apresentaram falhas de segurança reportadas e verificadas pela imprensa.
Com que frequência a frota é renovada? Como a manutenção dos veículos é realizada?
A renovação segue acordo comercial que pode variar de três a quatro anos, além de considerar a quilometragem do veículo. As manutenções seguem o plano indicado pelo fabricante, sendo realizadas em concessionárias ou oficinas, depende do contrato. As manutenções programadas são de responsabilidade da locadora, e as aprovações e as manutenções corretivas são efetuadas pelo time de frota da Arcos Dorados.
Aqui temos um ponto importante que não abrimos mão: qualquer item relacionado à segurança do condutor deve ser trocado ou reparado no momento da revisão programada ou corretiva.

Em 2023, a Arcos Dorados ganhou os Prêmios Frotas da AIAFA Brasil na categoria Redução de Emissões, graças à adoção do etanol para mitigar o impacto ambiental. Como é a gestão de combustível na empresa?
Adotamos o uso obrigatório do etanol em 100% da nossa frota flex, com controle por um sistema. Esse projeto foi reconhecido pela AIAFA em 2023 e internamente em 2024. Utilizamos cartão combustível com uma política rigorosa de uso e controle sistêmico.
Há veículos elétricos ou híbridos na frota ou planos para a eletrificação da frota?
Temos oito veículos híbridos, um volume pequeno. Não optamos por veículos 100% elétricos, uma vez que entendemos que, no Brasil, ainda há uma carência de pontos para carregamento, inclusive em residências, e pelo fato de a nossa frota ser essencial no dia a dia e operar em todo o Brasil. A indisponibilidade de veículos durante o tempo de recarga poderia afetar nossa operação. Além disso, já adotamos práticas alinhadas aos princípios ESG, por meio da política de utilização exclusiva de etanol em 100% da frota.
Como a gestão da frota pode refletir, na prática, a estratégia “Receita do Futuro”, os compromissos ESG da Arcos Dorados?
Foi pensando no nosso compromisso com a sustentabilidade e os princípios ESG que em 2023 iniciamos o Projeto Etanol, um case de sucesso reconhecido pela nossa matriz. Além da implementação do uso de etanol para 100% da nossa frota, seguimos firmes nos treinamentos internos de nossos condutores, pois a direção segura e eficiente também traz ganhos para o meio ambiente. Por exemplo, fazer com que os pneus durem o máximo possível – e isso depende de não aplicar velocidade excessiva e realizar freadas bruscas –, reduzir o consumo de combustível, programar as rotas de forma mais eficiente, dentre outras ações.
"Os gestores de frota devem pensar na mobilidade como um todo e não apenas na sua frota específica"
Quais serão as tendências e os desafios para os gestores de frotas e de mobilidade para o segundo semestre de 2025 e o futuro próximo? A que esses profissionais precisam ficar atentos?
Acho que o grande desafio é saber maximizar a utilização dos veículos e implementar frotas sustentáveis, pensando no futuro, por exemplo, no descarte adequado e reaproveitamento de baterias elétricas. Ou seja, temos que fazer uma reflexão sobre o processo de mobilidade como um todo. Contar apenas com uma frota de veículos realmente é o melhor caminho? Os colaboradores de fato devem sempre se deslocar em automóveis e, muitas vezes, sozinho? O que as empresas podem e devem fazer para reduzir o número de veículos nas ruas? Como aliviar o estresse do trânsito no dia a dia? O que os gestores de frota podem fazer para melhorar a vida dos condutores, que muitas vezes passam a maior parte do tempo dentro de um veículo? Como a tecnologia e a inteligência artificial podem contribuir para uma mobilidade mais sustentável? Nós, gestores, precisamos fazer com que as empresas tenham um olhar mais dedicado para a frota.
Que outras dicas a senhora daria para que outros gestores realizem uma gestão de frotas mais eficiente e mais sustentável?
Os gestores de frota devem pensar na mobilidade como um todo e não apenas na sua frota específica. Veículos 100% elétricos podem ser o caminho para redução de CO2, mas e quando esses veículos tiverem que ser descartados? Até quando a natureza vai suportar o lixo que geramos? Acho que uma frota eficiente e sustentável não parte apenas de implementar veículos elétricos e uso de etanol em 100% da frota, mas sim na redução do uso de veículos. O investimento em transporte público e de qualidade pode trazer soluções não só para a meio ambiente, mas também para a redução de veículos nas ruas e consequentemente menos tempo no trânsito para quem de fato necessita se deslocar em veículos.
Não podemos nos esquecer do tema educação para o trânsito. Devemos sempre trazer a reflexão sobre a segurança nas estradas, dos condutores e pedestres. E reforço o quão importante é realizar as manutenções preventivas no tempo indicado no manual do veículo, ser atento as sinalizações e, principalmente, respeitar as regras de trânsito. Ser motorista é, antes de tudo, saber que é um ser humano. Temos limites, temos vida, temos família.
Texto: Liana Aguiar
Fotos: Lienio Medeiros



