Entrevista com Cleverson Cavalcante, gerente de frota da Somerlog Logística e Transportes.
Com o avanço das tecnologias, os gestores de frotas passaram a ter mais acesso a soluções e sistemas de gestão, telemetria e a mais conhecimento dessa área tão estratégica dentro das empresas e instituições. E foi na direção da profissionalização da carreira que a gestão de frotas evoluiu nos últimos anos, como observa Cleverson Cavalcante, gerente de frota da Somerlog Logística e Transportes.
“Os profissionais hoje estão focados em sustentabilidade e segurança, integração com as demais áreas e uma abordagem mais analítica e orientada a dados na tomada de decisão”, avalia Cavalcante, que tem mais 20 anos de experiência em frotas.
Na Somerlog, empresa com sede em Mauá (SP) que atua na área de transporte rodoviário e aéreo, Cavalcante administra uma frota composta por 192 veículos, a maioria pesados e parte deles blindados. Para falar sobre os benefícios de blindar um veículo corporativo e analisar a evolução da profissão de gestor de frotas, o gerente concedeu a seguinte entrevista.
Há quase dois anos o senhor assumiu a gestão da frota da Somerlog. Entre as suas atribuições, que porcentagem do seu tempo é dedicada a essa área?
Hoje minha atribuição é estratégica, focada 100% na área, ou seja, gestão de frota, manutenção, análise de KPIs e tomada de decisões relacionadas à frota da Somerlog.
Quais são as principais características e desafios da gestão da frota da Somerlog?
Atuamos na área de transporte rodoviário e aéreo em todo o território nacional. Nosso desafio é manter a disponibilidade, confiabilidade e segurança dos veículos nas operações, reter e treinar talentos, gerir os dados e riscos e sermos eficientes com sustentabilidade.
“Nossos motoristas são treinados para usar as tecnologias embarcadas dos veículos e para a condução dos veículos blindados”
A Somerlog é especializada em transporte de cargas de alto valor agregado, então a segurança deve ser uma prioridade da gestão da frota. Que medidas de segurança vocês adotam na frota? Que tipos de veículos são blindados?
Parte de nossa frota é composta por veículos com blindagem metálica nível III, o que requer mão de obra especializada, tanto na condução, quanto na manutenção. E é preciso estar atento às especificidades da manutenção e cuidados desses veículos, para garantir a segurança da operação, dos condutores e da carga transportada
Pela sua experiência, quais são os benefícios e quando vale a pena blindar o veículo corporativo?
Especialmente em áreas ou situações nas quais a segurança é uma preocupação, blindar um veículo corporativo oferece diversos benefícios. Veículos que transportam valores, documentos sensíveis ou equipamentos de alto valor são alvos potenciais de criminosos. Nesse contexto, a blindagem ajuda a proteger esses ativos durante o transporte, operações em regiões com histórico de violência ou mesmo em áreas urbanas com altos índices de criminalidade. A blindagem pode reduzir significativamente os riscos da operação.
Vocês realizam treinamentos com os condutores para manter a segurança das cargas, dos veículos e dos próprios colaboradores?
Mantemos uma grade de treinamentos específicos para cada tipo de veículo e operação. Devido à complexidade da nossa atividade, nossos motoristas, além dos treinamentos de direção defensiva e econômica, são treinados para usar as tecnologias embarcadas dos veículos e para a condução dos veículos blindados. Apesar de a mecânica ser a mesma dos veículos convencionais, há diferenças significativas quanto ao campo de visão, embarque e desembarque dos veículos e exposição em caso de emergências e/ou paradas não programadas.
Como a segurança é uma prioridade, a empresa investiu em tecnologias avançadas de rastreamento e monitoramento em tempo real?
Sim. Utilizamos os mais avançados sistemas de monitoramento, telemetria e videotelemetria em nossa frota, garantindo segurança e confiabilidade em nossas operações. Continuamos atentos ao mercado de tecnologia e sempre buscamos novas soluções e atualizações dos sistemas já implantados.
Que modalidade de aquisição a empresa adotou, frota própria ou terceirizada? Por que escolheram essa modalidade, quais as vantagens?
Devido ao ramo de atuação, é necessário atender aos nossos clientes com frota própria e dedicada. Essa opção possibilita a gestão total da operação de transporte, maior controle e autonomia. Um outro fator é que mesmo as operações de menor grau de risco são atendidas por meio de veículos preparados, com tecnologia que veículos de terceiros não atendem.
E quais as vantagens de uma frota dedicada, aquela destinada exclusivamente às entregas do contratante?
Uma frota dedicada traz maior eficiência operacional, otimiza as rotas e o tempo de entrega e proporciona segurança às operações. Além disso, reduz custos, permitindo o controle sobre a qualidade do serviço e atendimento, facilita o ajuste da operação conforme demanda do embarcador e fortalece o relacionamento com o cliente.
“Especialmente em áreas ou situações nas quais a segurança é uma preocupação, blindar um veículo corporativo oferece diversos benefícios”
Quais os critérios na hora de escolher uma marca e um modelo para frota? A que serviços da empresa os veículos estão destinados?
Observamos o custo de compra, o histórico de manutenção e o consumo. Trabalhamos hoje com três marcas – Volkswagen, Scania e Kia –, que são dimensionadas conforme demanda da operação, atendendo o transporte rodoviário (first mile) e a distribuição (last mile).
Com que frequência a frota é renovada?
A frota tem idade média de 3,7 anos. Quando se trata de veículos blindados, a renovação é diferenciada do cálculo de mercado, cuja média é de 3 anos. E a justificativa está no fato de que o veículo é utilizado por mais tempo, devido, em primeiro lugar, ao retorno sobre o investimento, e, em segundo lugar, pela falta de mercado especializado em compra e venda de veículos blindados.
Como a manutenção dos veículos é realizada, em oficina própria ou vocês terceirizam esse serviço?
As manutenções são realizadas em oficina interna. Contamos hoje com um time robusto de manutenção, com espaço próprio. Além das manutenções internas, temos as manutenções de blindagem, que são realizadas no próprio fabricante.
Há veículos elétricos ou híbridos na frota? Pretende investir em políticas de mobilidade mais sustentáveis?
Não temos veículos elétricos ou híbridos em nossa frota, mas entendemos a necessidade de adequação e estamos com estudo de viabilidade para implementação de políticas sustentáveis. Nosso desafio é buscar atender aos pilares ESG (governança ambiental, social e corporativa).
Adotaram ou pensam adotar combustíveis alternativos, como gás natural veicular? E como é a gestão do combustível? Usam cartão de combustível?
Estamos evoluindo nas alternativas para abastecimento da frota. Hoje utilizamos etanol para 100% da frota leve, minimizando os impactos ambientais gerados pela operação. E é entendimento de nossa diretoria que precisamos evoluir nesse tema.
Temos um profissional dedicado na área de frota para controle, compra e gestão, interno e externo. E realizamos os pagamentos via cartão de combustível com parceiro bandeirado, que faz a gestão externa dos abastecimentos em postos e do tanque interno.
O senhor tem mais de 20 anos de experiência em gestão de frotas. Na sua opinião, como a figura do gestor de frotas evoluiu nas empresas nesse período?
Percebo uma evolução significativa ao longo dos anos. Houve uma profissionalização e especificação dos profissionais da área. O avanço da tecnologia possibilitou ao gestor ter acesso a uma ampla gama de softwares e sistemas de gestão, telemetria, acompanhamento e gestão de riscos. Os profissionais hoje estão focados em sustentabilidade e segurança, integração com as demais áreas e uma abordagem mais analítica e orientada a dados na tomada de decisão.
“Houve uma profissionalização e especificação dos profissionais da nossa área. O avanço da tecnologia melhorou a gestão da frota”
Na sua opinião, quais serão as tendências e os desafios para os gestores de frotas e de mobilidade para o segundo semestre e para 2025? A que esses profissionais precisam ficar atentos?
Verificamos no mercado tendências de eletrificação, automação e veículos autônomos, conectividade, sustentabilidade e ESG. Apesar de termos a percepção de certo delay de novas tecnologias empregadas no Brasil, essas soluções e inovações estão cada vez mais presentes e aceleradas no nosso dia a dia, é preciso estar atento às movimentações do mercado, acompanhar esses avanços e continuar se especializando.
Que dicas o senhor daria para outros gestores para uma boa gestão de frotas e de mobilidade?
Defina objetivos claros. Elabore procedimentos e políticas. Faça um planejamento de curto, médio e longo prazos. Estabeleça critérios para uma utilização eficiente dos veículos da frota. Foque nas manutenções preventivas e consumo dos principais ofensores do custo. Adote sistemas de gestão e controle. Desenvolva práticas sustentáveis e responsabilidade social. Defina métricas claras e que possam ser medidas e aperfeiçoadas (KPIs). Incentive a segurança dos motoristas com treinamentos constantes e específicos. E, por último, tenha comunicação efetiva e feedback contínuo.
Fotos: Lienio Medeiros